fbpx

MARIMONTANHA

Afina, Serra Fina! Relato feminino de uma aventura solo na Serra da Mantiqueira

A travessia da Serra Fina é conhecida por ser uma das travessias mais difíceis do Brasil. Com cerca de 30km de extensão, cerca de 2.000m de desnível e poucos pontos de água, foi consolidada somente nos anos 90, quando a Mantiqueira era pouco conhecida, a vegetação ainda era bem densa e havia dificuldade na navegação e atravessamento dos campos de altitude. Hoje, as trilhas são bem demarcadas, mas o desafio físico da travessia ainda é grande. Como o próprio site do Ruah manda por mensagem ao comprar os ingressos, #SerraFinaNãoÉMoleza. Localizada na tríplice fronteira entre os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, abriga 2 dos 10 picos mais altos do Brasil, a Pedra da Mina (2798m) e o Pico dos Três Estados (2656m).

Pois bem, comecei a fazer trekkings longos de montanha em 2018 e o universo se abriu. A possibilidade de poder carregar no corpo todo o necessário para viver e poder ir além de onde a civilização toca, se afastar da segurança ilusória dos recursos em excesso e ter na mente os próprios recursos sempre foi um assunto de grande interesse meu. Mergulhei de cabeça quando descobri que haviam pessoas que se embrenhavam na natureza por lazer. Fui atrás dessas pessoas e tudo o que aconteceu desde então levou ao desenvolvimento necessário para esse rolê.

Julho de 2023, estava no auge da temporada, me sentindo forte e íntima com a montanha. Escalando e caminhando muito, até que uma forte ida ao Pico da Bandeira, Pico do Calçado e Pico do Cristal me despertou um desejo quase incontrolável de ir pra montanha passar um tempo sozinha. Se não fosse para a Serra Fina, seria para outro lugar. Mas, cheguei em casa, procurei os ingressos e, quando as coisas conspiram ao favor, até o dia com desconto é o dia que você quer ir – semana que vem. Nunca tinha ido à Serra Fina, mas não tinha dúvidas de que estava mais do que preparada para só pegar e ir. E assim foi. Organizei minha mochila – quarto, sala, cozinha, banheiro. Estudei o mapa, os pontos de água, planejei a logística de equipamentos e imprimi a carta topográfica. Chequei a previsão do tempo, baixei o traklog. Baterias cheias. Check, check, check.

Tinha que chegar uma noite antes para começar cedinho no dia seguinte. Peguei uma carona em Juiz de Fora para Passa Quatro à tarde, cheguei na cidade no começo da noite. Faltavam uns 13km pra chegar na base da trilha, a Toca do Lobo, onde havia pago mais um camping para a noite 0. Tentei conseguir transfers, mas estava além do meu orçamento, “f*da-se, vou subir a pé mesmo, o que é um peido pra quem tá cagado?” Mas não cheguei nem na entrada da estrada de chão, às 20:08 e um anjo, ali da Pousada do Quilombo, Jeffer, me viu e falou “você não vai subir isso tudo a pé não, né?”. Já havia checado no gps e levaria cerca de 2 horas e poucas para subir. “Cê tá doida, entra aí que eu te deixo lá, pra onde você tá indo?” E assim, Jeffer me deixou na Pousada Serra Fina, até onde o carro foi, e dali, rapidinho já estava na Toca do Lobo às 21:11, onde pernoitaria aquela noite para começar a trilha logo cedo pela manhã. Armei acampamento, fiz a primeira janta do rolê. Dormi com tudo dentro da barraca.

Acordei no dia seguinte, o dia 1 da travessia, por volta de 6 e poucas da manhã, e caía uma chuva leve. Não acreditei naquela chuva inesperada, todas as previsões do tempo estavam abertas! Nem corri para sair da barraca, ouvi pessoas chegando e passando, mas não tive pressa nenhuma de começar logo. Por um momento pensei em dar pra trás. Mas, a chuva passou, fiz meu check in, fui ao banheiro, não tinha água, lembro de me perguntar o que fazia aquele pernoite extra sem estrutura ser tão caro. Tomei meu café, constatei que minha barraca havia sido roída por um dos abusados ratinhos da Mantiqueira, junto com meus sanduíches. Era isso, agora tinha sanduíches roídos para os próximos 4 dias e uma barraca remendada com silver tape. Pelo menos estava preparada e tinha a silver tape! Levantei acampamento, ajeitei a mochila e comecei a travessia. Já estava vivendo ela antes, mas, oficialmente, a travessia começava ali.

8:30 comecei passando direto da entrada (que sabia como e onde era) e ri de mim mesma, que errei a primeira curva nos primeiros 100m. Mas depois disso, foi sucesso. O dia estava nublado e fechado, o começo da trilha, ainda embaixo, as árvores altas da mata atlântica úmidas e o chão barroso. Aquele pensamento de começo de travessia quando os músculos acordam “meu Deus, por que decidi trazer isso, isso e aquilo na mochila, que peso desnecessário” até aquecer o corpo lá pela primeira meia hora, e o peso não fazer mais diferença. Além do equipamento e suprimentos, estava levando um ukulele com quase meio quilo a mais, uma vez que estaria sozinha na montanha, estava empolgada para fazer coisas. Eu amava a ideia de estar autônoma na montanha e ainda poder carregar e tocar um instrumento! Ainda amo! Estava registrando tudo pelo celular, empolgada com aquilo tudo que eu estava vivendo, e depois produzi um mini doc que está no YouTube!

Por conta do barro, lembro de ter dificuldade em trechos que na época tinham cordas fixas, além de uma escada fixada com cabos de aço. Para pisar ali naquele barro, sem a escada, na minha cabeça precisaria de crampons. Que trem escorreguento! O barro escorria das mãos ao me puxar pela corda molhada. Foi o único trecho da travessia que, sem aqueles recursos, não tenho ideia de como eu passaria. Em outra ocasião, um ano depois, fazendo a travessia reversa, passei voltando por ali, seco, e nem parecia o mesmo lugar. Nem tinha a corda fixa mais, nem senti que aquele dia precisaria de algo a mais. Até a inclinação parecia diferente! A montanha é tempo…

Estava fechado o tempo quando começaram os campos de altitude e a subida para o capim amarelo. Tive pouca visibilidade desse lado esse dia, mas a visão desse trecho é bem bonita! Às vezes ameaçava abrir, depois fechava de novo. Fui indo! Muito antes do que eu esperava, estava eu ali, na hora do almoço, no cume do Capim Amarelo! Cogitei, por um instante, tocar para frente, pois tinha muito dia pela frente ainda. Mas, como a intenção era exatamente curtir os dias na montanha, olhei praquele universo de tempo que teria ali aquele dia e não sabia nem o que fazia primeiro!

Armei acampamento troquei de roupa. Fiz uma comida enquanto ouvia uma música. Estava ostentando bateria, pois tinha 2 celulares (um desligado, sem chip, com o tracklog baixado, de backup), um powerbank de 20.000mHa e um carregador solar com 4 placas. Sentei numa pedra confortável a e Pedra da Mina começou a querer aparecer meio tímida, atrás das nuvens. Comi vendo o tempo abrir e peguei o ukulele pra brincar, tirando algumas músicas que estava escutando aquela semana. Estava com as músicas mais aleatórias na cabeça, gravei algumas, que viraram trilha do doc! De Stoned Jesus – “I’m the mountain” (no ukulele) à música da Pocahontas, que até chorei cantando essa, foi um devir montanha forte ali! Estava tocando quando a vista da Pedra da Mina e das outras montanhas da Serra Fina descortinaram ali totalmente e aí sim o tempo abriu e nunca mais fechou! O sol abriu, mas o frio estava forte! Sei lá quantos graus fez aquele dia, sei que dia seguinte acordou tudo congelado!

Duas pessoas, imaginei que um casal de um homem e uma mulher, chegaram ao cume também, mas não nos encontramos, só nos ouvimos. Não quis incomodá-los, eles não quiseram me incomodar. Passei bem a noite, estava bem equipada, não senti frio, acordei bem e na hora certa para ver o nascer do sol. Sol nasceu, tomei um café, fiz uns alongamentos… Quando voltei para a barraca, o bastão, que havia fincado em frente a barraca no dia anterior, ainda estava congelado!! Arrumei as coisas com calma e, na hora de ir embora e seguir travessia que encontrei o “casal” do cume! Mas não era um casal! Era o Caíque da Entre Picos e a Solange, mãe dele, que estavam fazendo travessia juntos, e ambos tinham me dado carona para subir para o parque do Itatiaia para escalar lá dois meses antes, e ficamos surpresos e felizes de nos reencontrarmos ali naquela ocasião, e rimos de nosso desencontro na noite anterior! Nos despedimos “Até a Pedra da Mina!” e comecei o segundo dia de travessia ali, rumo à Pedra da Mina, o ponto mais alto da Mantiqueira!

Comecei o dia super bem e alegre, o sol já esquentava a pele e já era possível não estar agasalhada, e fui seguindo a trilha! Eram 9:12 da manhã. Extremamente bem marcada, não precisei recorrer ao traklog nenhuma vez. Esse dia seria um dia que eu precisaria de água, mas havia trazido água em excesso no primeiro dia (poderia ter levado somente alguns recipientes vazios para os dias seguintes, mas menos água no primeiro dia) e tinha pouco mais de 1,5l de água, em uma garrafa pet de 1,5l e alguns goles dentro da bolsa de hidratação (que levei quase vazia, com um restinho de água do Pico da Bandeira da semana anterior, para encher no dia que precisaria de mais água) e tinha mais 0,5l de isotônico. Tinha água o suficiente para chegar à base da Pedra da Mina, para pegar água para a noite e o começo do dia seguinte, no Ruah, onde aí sim precisaria me carregar para aquele dia, noite e o dia seguinte!

Enfim, tinha água o suficiente, passei o ponto de água e não me abasteci. Fui. Cheguei a um trecho um pouco mais técnico, de escalaminhada fácil em pedras, estava tudo bem, quando… A garrafa com os 1,5l de água do dia CAIU da mochila, com certeza estourou, e sumiu mato adentro. Não acreditei naquilo, deixei a mochila no meio e desci para procurar a água. Nem sinal. Era aquilo. Façam backup das coisas na mochila, galera! Tinha uma decisão a tomar: ou eu voltava um tanto que já tinha caminhado e pegava água, ou tocava pra frente com meus 0,5l de isotônico e os goles de água do Pico da Bandeira. Decidi tocar pra frente. Havia perdido não só a água, mas um recipiente de 1,5l também para o dia que mais precisaria. Mas sabia que daria certo, até porque para cozinhar estava no modo de economia EXTREMA de água, então estava tudo sob controle.

Fui, a paisagem estonteante, o sol rachando, sobes-e-desces à Serra Fina, tomando isotônico, aquele trem doce, e começou a me dar sede. Cheguei na base da Pedra da Mina e tomei uma decisão ruim. Me abasteci de água, mas não a tratei imediatamente, pois pensei “vou ter que esperar 15 minutos pra beber esta água, vou subir rapidinho e já trato lá em cima e faço o que tiver que fazer”. De baixo, parecia que em 15 minutinhos chegaria ao cume mesmo. Mas um ano depois constatei que a Pedra da Mina é uma montanha extremamente enganadora, repleta de falsos cumes, independente de por onde você venha (acredite, vim no sentido tradicional, reverso e pelo paiolinho, não sei qual engana mais!).

Enfim, estava desidratada a essa altura, né! Dava 3 passos e parava pra descansar. Aí a fadiga da desidratação bateu! Mas já tava quase lá, não queria ter que tirar tudo pra tratar uma água e beber ali no meio sendo que já estava chegando! Fui indo sofrendo, mas fui! Cheguei ao cume! Foi o dia que cheguei ao cume mais tarde, por volta de umas 15h e tantas, quase 16h (mas ainda foi cedo, parando para pensar nesse contratempo)! Mas ao mesmo tempo foi o dia mais incrível para mim! Eu não tinha tido a noção de que de lá eu teria a vista do Parque Nacional do Itatiaia, apesar de, do Itatiaia, sempre ter tido a vista da Serra Fina! Quando cheguei, uma nuvem o encobria e ainda não havia visto. Quando abriu e as Agulhas Negras apareceram eu nem acreditei! Na mesmo hora até tirei o celular do modo avião e peguei sinal para falar que eu não estava acreditando que eu estava ali, vendo aquela vista, de frente pras Agulhas Negras, e me sentindo burra de não ter entendido isso antes sobre a Serra Fina!! Foi um êxtase sem tamanho, nem lembrei que estava desidratada!

Armei acampamento, tratei a água, me hidratei, fiz comida, mas nem consegui comer direito, estava meio enjoada. Deixei o powerbank carregando na energia solar até o sol se pôr, estava gastando bastante bateria até ali e comecei a economizar. Tirei o ukulele e toquei um pouco ali, vendo aquela vista! Algumas pessoas apareceram de passagem, e começaram a chegar as pessoas que pernoitariam ali na Pedra da Mina. Fiquei inibida e parei de tocar. Pessoas fazendo chamadas de vídeo na barraca ao lado, fiquei horrorizada com a barulhada e a lotação daquela montanha no meio da semana. Caíque e Solange chegaram e contei meu episódio da água. Por coincidência, Caíque havia levado uma bolsa de hidratação de 3l extra, e me emprestou para o dia seguinte, que seria quando precisaria de mais água. Foi perfeito, pois tinha água para a noite e para chegar até o vale do Ruah, onde pegaria a próxima água, e consumiria aqueles 3l aquele dia mesmo, ao longo do dia, para beber e para cozinhar à noite, e aquela noite mesmo já devolveria o camelbak. Assim foi feito. O sol mal abaixou e o frio pegou forte, ainda estava me recuperando da desidratação do dia, logo entrei na barraca e fui dormir.

Acordei cedinho, me encapotei com todas as roupas para ver o sol nascer, mas senti calor quando ele subiu. A montanha estava cheia, fiz meu café da manhã ali e não enrolei para seguir travessia, mas fiz tudo com calma, comecei a andar 9h da manhã também! Me despedi dos amigos passando pelo acampamento deles, agradeci o recipiente de água e desci pelo caminho que sabia ser certo, pois já havia visto relatos de pessoas que desceram errado. Mas ali na direção correta o caminho estava claro e comecei a descer. Na época, não havia o desvio do Vale do Ruah, cortávamos por dentro do vale, margeando a água, era um caminho mais plano. Hoje em dia há 2 morros e meio de desvio e mais um para acessar a água, bem mais cansativo. Mas, na época, pegava água ali e era um trecho plano por entre os capins-amarelos do Vale do Ruah. A navegação esse dia foi tranquila também, também não recorri ao traklog nenhuma vez, a trilha estava bem pisada, até nos trechos de pedra era possível ver onde as pessoas costumam pisar mais. Abastecida com 5,5l de água, beberia pelo menos 2l aquele dia, usaria 1l de noite e de manhã para cozinhar e teria 2,5l de água para o dia para finalizar a travessia (o último ponto de água já é quase no final!).

Esse trecho, depois do Vale do Ruah, a partir do acampamento Brecha ali (fica a dica esse acampamento para dormir, caso você queira fazê-la reversa, mas falo disso em outra ocasião!) é um dos trechos mais bonitos da travessia, mas foi onde registrei menos, pois a bateria estava se gastando rápido demais fazendo os registros. Seria bom terminar a travessia com bateria para poder me comunicar – mas já tinha o plano B, caso desse errado, só precisava chegar ao final da travessia! Caso terminasse sem bateria, iria a pé até o Hostel Picus e lá pediria ajuda para a Tatá e ao Fera pra dar uma carga no celular e conseguir me comunicar e ver como eu chegaria em Juiz de Fora novamente. Não era problema para agora, mas não podia torrar a bateria também. O carregador solar não estava dando vazão , mesmo deixando pendurado fora da mochila carregando o powerbank, até porque há muitos trechos em pequenos vales com florestinhas, quando termina de subir um morro e desce para a base de outro, ou seja, não pega tanto sol.

Mas é isso, foi carregando o que dava, o caminho lindo que faz você entender por que “Serra Fina”, passando em finas cristas com visões amplas para todas as direções, o Itatiaia na frente! Florestinhas com bromélias, musgos e diversos tipos de vegetações de altitude incríveis, dessa região de Mata Atlântica, que sobrevivem aos climas extremos, congelamentos, descongelamentos, calor, frio, tudo. Animais adaptados àquele lugar também. Cheguei ao Cupim do Boi. Ali, de frente para as Agulhas Negras e para o Pico dos Três Estados, parei para apreciar aquela vista que eu ainda estava em êxtase! Comi um sanduíche roído pelo ratinho na noite 0, e quando vi o tanto que teria que descer ali para subir de volta, confesso que o sentimento que senti ali foi desânimo! Na cara do gol, ainda teria que descer um tanto para subir de volta, mais alto ainda! No caminho reverso nem parece que é tanto, mas indo, chegou aí, vai na fé que tá quase! Mas é uma subida mais tranquila essa dos Três Estados, do que qualquer subida da Pedra da Mina, uma vegetação mais macia e úmida, menos inclinação, não sei explicar, mas por essa face você chega e nem percebe que chegou, pois vai subindo pelos capins-amarelos até chegar aos capins-amarelos planos do cume, onde tem o totem dos Três Estados!

Cheguei cedo esse dia também, 14:06, armei acampamento, fiz um almoço, fiz um som. Quis desenhar o que estava vendo ali, as Agulhas Negras, as Prateleiras, o Morro do Couto, a Serrilha dos Cristais, o Paredão das Andorinhas, o Itatiaia inteiro ali, eu entendendo tudo o que eu via, mas a tinta da caneta acabou no meio do desenho. Caíque e Solange chegaram para o pôr do sol, devolvi o camelbak, Caíque fez uma pipoca, eu fiz um “bacon” de proteína de soja frito, compartilhei carga do meu powerbank pois tinha o suficiente para o dia seguinte para chegar! Erh… Tinha! Enfim, sol se pôs, desliguei o celular, fomos dormir!

Acordei, vi o sol nascer atrás do Itatiaia, vivi esse último começo de manhã na montanha. Aquele dia seria meio correria, ainda não tinha como chegar em casa, e no dia seguinte eu partiria de novo para a montanha, para fazer a travessia da Serra de São José de Prados até Tiradentes com as amigas. Tomei café, liguei o celular, verifiquei que havia bateria o suficiente para voltar. Desliguei novamente e o coloquei no chão enquanto arrumava o acampamento. Ah, pra quê! O frio, ou sei lá o que, descarregou o celular DESLIGADO nesse tempo que levantei o acampamento. Quando despedi, comecei a caminhar e liguei o celular, estava ele lá com 3% de bateria. Era isso. Tinha o celular de reserva, a partir dali deixei o traklog de backup lá (mas também não precisei usar, mas, como não tinha feito a travessia antes, e estava sozinha, achei sensato mantê-lo ligado) e fiz os últimos registros com o mínimo de qualidade que esse celular oferecia.

Perguntei se meio-dia eu chegava na portaria, saindo por volta das 7h ali, falaram que achavam difícil. Eu acredito que teria feito, se não tivesse deixado esse celular de backup cair no caminho, e ter que voltar correndo para procurá-lo, por mais de 1km. Afinal, também era minha comunicação caso eu precisasse, só colocar o chip nele. Enfim. Estava muito bem fisicamente e rapidinho, em 1h10min cheguei ao Alto dos Ivos, a última subida considerável do último dia. Comecei a descer, e passa por mim o João Pedro, da Habitat Expedições, fazendo a Serra Fina em 1 dia, havia começado a correr aquele dia 2:30 da manhã! Por coincidência, João e os amigos haviam nos dado carona nessa mesma ocasião do Itatiaia que conheci o Caíque e Solange, mas foi a carona do dia seguinte para subir para o parque! Como é legal a sensação de reencontrar as pessoas legais na montanha! João passou voado por mim e me animou mais para a descida! Era quase 11h e eu já estava quase no Nativa! Mas precisei voltar para achar o celular perdido, como já era uma parte mais baixa, já era um terreno mais “fofo” e com árvores altas de floresta atlântica, então não havia subidas técnicas, só a subida normal da floresta no sentido reverso mesmo, foi mais fácil e dei até uns trotezinhos, mesmo com a cargueira nas costas. Àquela altura a mochila já era parte do meu corpo fazia tempo.

Cheguei tão abafada no Nativa, às 11:03, que toquei o interfone, não vi ninguém, desci correndo pois ainda tinha um tanto até chegar na rodovia, onde tentaria conseguir carona até Caxambu, para de lá, pegar um ônibus para Juiz de Fora (teria que descobrir os horários ainda). Quase na estrada, comuniquei um trabalhador que estava saindo, e mal pisei na estrada e a primeira carona já apareceu! Nem precisei ir ao Picus e, passando em frente a ele, de carro, vi João chegando lá e pedi para buzinar para ele! Minha primeira carona foi um policial rodoviário que me deixou lá na PRF de Itamonte, fez duas plaquinhas de carona para mim, e de lá, 4 caronas depois, avançando nos trechos da BR267 até Juiz de Fora, cheguei em casa final do dia, minha última carona me deixou a 100m de casa às 18h e caí na Babilônia depois de um dia que começou em um dos pontos mais altos do país, olhando para as Agulhas Negras, montanha que tenho tanto carinho e respeito! Quem me via não poderia imaginar as coisas incríveis que tinham acabado de me acontecer nesses últimos dias! Mas marcou.

Assista ao doczinho que saiu dessa aventura aqui!!

Curtiu? Comenta aí se você quer detalhes dos equipamentos e logísticas que construí com o que tinha e sabia pra esse rolê!

Uma resposta para “Afina, Serra Fina! Relato feminino de uma aventura solo na Serra da Mantiqueira”

  1. Avatar de Elaine Machado
    Elaine Machado

    Incrível como as pessoas crescem de tantas maneiras! Incrível o qto podemos e somos fortes! É só ter a coragem do primeiro passo… parabéns Mary!!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você também deve gostar: